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A menina da foto: a história por trás de um símbolo da Guerra do Vietnã.

        O pânico de Phan Thị Kim Phúc, aos 9 anos, capturado pelo fotógrafo Nick Ult, em 1972.  —  Foto de arquivo/Nick Ult/AP.
 
A menina da foto: a história por trás de um símbolo da Guerra do Vietnã.
Publicado no JASB em 12.junho.2022.  Atualizado em 20.junho.2022.  

Grupos no WhatsApp Uma imagem marca a Guerra do Vietnã desde 1972. Com os braços abertos, o corpo nu queimado e a expressão de terror no rosto, uma menina atingida por uma bomba química se tornou o símbolo do conflito que matou mais de 2 milhões de vietnamitas, muitos deles civis, e 58.000 militares americanos.
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Phan Thi Kim Phúc nasceu e passou sua infância na pequena vila de Trang Bang, no Vietnã do Sul, onde sua família tinha uma pequena fazenda e era dona de um restaurante bem simples, mas com ótima comida. Ela amava ir à escola e brincar de pular corda e pique-esconde com os primos e outras crianças locais. Mas tudo isso acabou de forma trágica no dia 8 de junho de 1972, há 50 anos.

Naquela quinta-feira, forças do Sul atacavam a vila de Trang Bang, recém-tomada por tropas do Norte. Kim Phúc e seus parentes fugiam quando, por volta do meio-dia, um avião sul-vietnamita os confundiu com inimigos e atirou sobre a área bombas de napalm, o terrível composto à base de gasolina que provoca queimaduras severas no corpo. 


Kim Phuc Phan Thi (menina da foto) aos 9 anos, ela teve grande parte das costas, da nuca e do braço esquerdo queimados pelo napalm. O ataque que a atingiu foi comandado pelas forças do Vietnã do Sul. 
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O fotógrafo Nick Ut, de 21 anos, estava na Estrada 1, entre Saigon e Phnom Penh, registrando o bombardeio a uma distância segura. Quando percebeu civis correndo do vilarejo em chamas na sua direção, ele continuou acionando sua máquina. Uma daquelas pessoas em pânico era Kim. A menina de 9 anos tinha rasgado as próprias roupas enquanto o napalm corroía sua pele. Aos prantos e nua, ela gritava: "Nóng quá! Nong quá" ("Muito quente! Muito quente!").

        O bombardeio ao vilarejo de Trang Bang, no Vietnã, em 8 de junho de 1972.  —  Foto de arquivo/Nick Ult/AP.

Nick Ut trabalhava para a agência de notícias Associated Press. A foto da criança correndo de braços abertos em meio ao horror da situação seria publicada pelos principais jornais e rodaria o mundo, gerando uma onda de comoção contra a já bastante criticada participação americana no conflito (sete meses depois, o país anunciou a saída de suas tropas). Ao longo do tempo, a imagem se tornaria o maior símbolo da violência na Guerra do Vietnã.

Mas e a menina? O que houve com Kim Phúc depois daquele dia trágico?

My Lai: O massacre que escancarou os horrores da Guerra do Vietnã.

Após registrar a cena, Nick Ut levou a menina para um hospital em Saigon, onde os médicos salvaram sua vida. Mas ficaram sequelas graves. Kim só voltou para casa depois de 14 meses internada e 17 cirurgias, incluindo tranplantes de pele. Ao sair do hospital, seus movimentos eram muito limitados, e ela sentia dores excruciantes que acompanham até hoje. Suas costas e seu braço esquerdo continuam cobertos por cicatrizes, 50 anos depois.
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Hoje, Kim vive no Canadá ao lado de seus filhos, de seu marido e de seus pais. Em visita ao Brasil, 46 anos depois daquela tragédia, para lançar sua autobiografia. 

A menina da foto – Minhas memórias: Do horror da guerra ao caminho da paz”, Kim revelou que após anos de sofrimento e de ódio, encontrou finalmente a paz. Esta mãe de dois filhos percebeu que poderia usar sua foto para impulsionar uma campanha contra a violência.


“Quando criança, eu desejava que aquela foto nunca tivesse sido tirada. Até que eu me tornei mãe e segurei meu filho em meus braços pela primeira vez”, afirmou Kim a VEJA. Percebi que a imagem era um presente poderoso com o qual poderia trabalhar para alcançar a paz”, diz. 

        Kim Phuc Phan Thi, vítima de um ataque aéreo de napalm durante a Guerra do Vietnã em 1972.   —  Foto: Heitor Feitosa/VEJA.com.

“Nenhuma criança deveria sofrer como eu sofri”, afirma a vietnamita, que hoje tem 55 anos e comanda uma organização de auxílio a crianças em áreas de conflito. “Naquele momento, eu estava no lugar errado e na hora errada. Mas agora estou no lugar certo e na hora certa. Eu encontrei meu propósito. ”

Na época em que foi vítima da guerra, Kim teve que lidar com as marcas e as dores das feridas, ela jamais conseguiu se livrar dos impactos da foto em sua vida. Ela morria de vergonha da imagem, devido à exposição de sua nudez em um momento de pânico. Num artigo recente publicado pelo jornal "The New York Times", a vietnamita diz que ficou eternamente grata a Nick Ut por salvar sua vida. Mas conta também que cresceu detestando a foto.

        Em artigo, Kim Phúc diz que cresceu detestando imagem que a fez famosa —  Foto/Reprodução The New York Times.

"A criança correndo se tornou um símbolo dos horrores da guerra. Mas a pessoa real observa das sombras, com medo de ser exposta como alguém debilitada", escreveu ela. "Fotografias são a captura de um momento. Mas os sobreviventes nessas fotografias, especialmente crianças, precisam continuar. Não somos símbolos. Somos humanos. Precisamos encontrar trabalho, pessoas para amar, comunidades para abraçar".
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O bombardeio: A história real do ataque a uma escola que virou filme

Anos depois do bombardeio, Kim entrou para uma faculdade de Medicina. Mas, como a imagem de 1972 havia se tornado um ícone da vitória do Vietnã do Norte sobre os Estados Unidos, o governo comunista de seu país obrigava a "menina da foto" a embarcar em consecutivas turnês para dar entrevistas e palestras, usando-a como uma garota propaganda. Essa situação atrapalhou os estudos da jovem.

Foi apenas em 1986, quando ela ganhou uma bolsa para estudar em Cuba, que sua vida tomou rumos de normalidade. Em Havana, ela se apaixonou por outro aluno vietnamita de intercâmbio. Os dois se casaram em 1992 e foram passar a lua de mel em Moscou, na Rússia. Na volta, eles aproveitaram uma escala no Canadá para deixar o avião e pedir asilo, o que foi concedido pelo governo do país.  

Em 1997, a vietnamita criou a Kim Phúc Foundation, voltada para dar assistência física e psicológica a crianças vítimas de diferentes guerras. Com isso, ela deu um novo sentido à imagem de 1972. "A foto virou um presente muito poderoso porque me deu a chance de ajudar as pessoas", disse Kim numa entrevista recente. "Eu dediquei minha vida a ajudar crianças em sofrimento ao redor do mundo".

Kim Phúc e Nick Ut em 2012: eles ficaram amigos após foto do bombardeio

        Kim Phúc e Nick Ut em 2012: eles ficaram amigos após foto do bombardeio | Foto de arquivo/Jae C. Hong/AP.

O trabalho social com a fundação ajudou a curar seus próprios traumas mentais, dos quais ela já vinha tratando desde que se convertera ao Cristianismo, nos anos 1980. A família também ajudou nesse aspecto. Kim e seu marido, Bui Huy Toan, têm dois filhos, de 28 e 24 anos, e dois netos.  
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"Não me sinto mais como uma vítima de guerra. Sou uma mãe, uma avó e uma sobrevivente pedindo paz ao mundo".

As dores das queimaduras, porém, continuam presentes após décadas. Em 2016, a vietnamita nacionalizada canadense fez um sofisticado tratamento a laser numa clínica especializada em Miami, nos EUA, para tratar das grossas camadas de cicatrizes em sua pele. Graças à terapia, ela começou a sentir os carinhos do neto nas áreas de seu corpo mais atingidas pelo bombardeio de 1972. 

       Kim Phúc com o seu filho Thomas, em 1994.  —  Foto de Anne Bayn / Divulgação.

Ainda sobre a foto: Tirada pelo fotógrafo sul-vietnamita Nick Ut, que trabalhava para a Associated Press, foi publicada nas primeiras páginas de jornais de todo o mundo e ganhou um Prêmio Pulitzer. Com o tempo, tornou-se uma das imagens mais famosas da Guerra do Vietnã.

"Nick mudou minha vida para sempre com aquela fotografia notável. Mas ele também salvou minha vida. Depois que ele tirou a foto, ele largou a câmera, me envolveu em um cobertor e me levou para buscar atendimento médico. Eu sou eternamente grato," disse Kim.

Ela continua: "No entanto, também me lembro de odiá-lo às vezes. Cresci detestando aquela foto. Pensei comigo mesmo: “Sou uma garotinha. estou nua. Por que ele tirou aquela foto? Por que meus pais não me protegeram? Por que ele imprimiu aquela foto? Por que eu era a única criança nua enquanto meus irmãos e primos na foto estavam vestidos?” Eu me sentia feia e envergonhada."

Quem poderia responder essas perguntas ou mesmo justificá-las, diante de todo o sofrimento que a acompanhou ao longo de sua vida? 

Em entrevista ao jornal New York Times, Kim comentou:

"Enquanto crescia, às vezes eu desejava desaparecer não apenas por causa dos meus ferimentos – as queimaduras marcavam um terço do meu corpo e causavam dor intensa e crônica – mas também por causa da vergonha e constrangimento de minha desfiguração. Tentei esconder minhas cicatrizes sob minhas roupas. Tive uma ansiedade e uma depressão horríveis. As crianças na escola recuaram de mim. Eu era uma figura de pena para os vizinhos e, até certo ponto, para meus pais. À medida que envelhecia, temia que ninguém jamais me amasse.
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Enquanto isso, a fotografia ficou ainda mais famosa, tornando mais difícil navegar na minha vida privada e emocional. A partir da década de 1980, assisti a intermináveis ​​entrevistas com a imprensa e reuniões com a realeza, primeiros-ministros e outros líderes, todos os quais esperavam encontrar algum significado naquela imagem e em minha experiência. A criança correndo pela rua tornou-se um símbolo dos horrores da guerra. A pessoa real olhava das sombras, com medo de que de alguma forma eu fosse exposto como uma pessoa danificada.

Fotografias, por definição, capturam um momento no tempo. Mas as pessoas sobreviventes nessas fotos, especialmente as crianças, devem de alguma forma continuar. Não somos símbolos. Nós somos humanos. Devemos encontrar trabalho, pessoas para amar, comunidades para abraçar, lugares para aprender e ser nutridos.

Foi somente na idade adulta, depois de desertar para o Canadá, que comecei a encontrar paz e realizar minha missão de vida, com a ajuda de minha fé, marido e amigos. Ajudei a estabelecer uma fundação e comecei a viajar para países devastados pela guerra para fornecer assistência médica e psicológica a crianças vitimadas pela guerra, oferecendo, espero, um senso de possibilidades.

Eu sei como é ter sua aldeia bombardeada, sua casa devastada, ver familiares morrerem e corpos de civis inocentes caídos na rua. Estes são os horrores da guerra do Vietnã evocados em inúmeras fotografias e cinejornais. Infelizmente, eles também são imagens de guerras em todos os lugares, de vidas humanas preciosas sendo danificadas e destruídas hoje na Ucrânia.

      Em 2005, Kim e seus familiares reconstituíram a foto de 8 de junho de 1972. Um dos irmãos da vietnamita morreu poucos dias antes da fotografia mais recente ser tirada. —  Foto: Nick Ut/AP/Arquivo pessoal.

São, de outra forma, também as imagens horríveis dos tiroteios nas escolas. Podemos não ver os corpos, como fazemos com as guerras estrangeiras, mas esses ataques são o equivalente doméstico da guerra. A ideia de compartilhar as imagens da carnificina, especialmente de crianças, pode parecer insuportável – mas devemos enfrentá-las. É mais fácil se esconder das realidades da guerra se não vemos as consequências.
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Não posso falar pelas famílias em Uvalde, Texas, mas acho que mostrar ao mundo como são as consequências de um tiroteio pode trazer a terrível realidade. Devemos enfrentar essa violência de frente, e o primeiro passo é olhar para ela.

Carreguei os resultados da guerra em meu corpo. Você não cresce com as cicatrizes, física ou mentalmente. Sou grato agora pelo poder dessa fotografia minha aos 9 anos de idade, assim como da jornada que fiz como pessoa. Meu horror — do qual mal me lembro — tornou-se universal. Estou orgulhosa de que, com o tempo, me tornei um símbolo de paz. Levei muito tempo para abraçar isso como pessoa. Posso dizer, 50 anos depois, que estou feliz por Nick ter capturado aquele momento, mesmo com todas as dificuldades que aquela imagem criou para mim.

Essa imagem sempre servirá como um lembrete do mal indescritível de que a humanidade é capaz. Ainda assim, acredito que a paz, o amor, a esperança e o perdão sempre serão mais poderosos do que qualquer tipo de arma," concluiu.

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Conexão Notícia com informações do jornal New York Times, Veja, O Globo e Asharq 

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